Não quero méritos nem imortalidade
Por inventar uma palavra, uma pancada, um dizer...
Quero apenas dizer.
Igual a qualquer ser que põe sua vida a brincar
Nesse carrossel desgovernado,
Tão inconsequente a ponto de jogar o espírito
Pra fora de um corpo que não anula a visão congelada.
Deixando o mundo fotografar minha alma
Para revelar-me traída gritando a paixão,
Expondo à sarjeta a dor,
Vivendo no centro do olho do furacão,
Sentindo o prazer da vida sacudida in media res.
Sendo o vácuo entre as taças no tilintar e, depois do brinde,
Transformar-me naquela velocidade etílica absurda
A rasgar o corpo sedento.
Assistindo a uma rinha de boteco
E aplaudindo o vencedor...
Velando o sono vigiado pelas estrelas
E coberto por um jornal...
A trilha sonora?
É o tesão comendo o que resta
E o uivo dos cães
Juntos de nós inebriados de luar e lágrimas.
E no espelho do céu olhinhos assustados in media res.
Caminhando numa trilha de flores caídas,
Aos prantos de dor da árvore sentida em perdê-las,
Admirando o vão entre galhos e folhas
Como se fosse uma pintura rara
Presenciar uma cena de nuvens fecundando-se
E chorar ao ver o desenho da paz,
Mesmo que esta seja derradeira por um segundo...
Chutando a poça de chuva
Só pra ver os pingos em forma de poema no ar.
Segurando a barra, virando as páginas
Desse almanaque de fatos reais,
Sem pausa a vida está
In media res.
Denise Soares - 26/08/2005