segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“...nas imediações construídas pelos furacões...”

“Você pode ter lido um ou dois [poetas] e já sacar o que é poesia: que a poesia é um tipo de loucura qualquer. É uma linguagem que te pira um pouco, que meio te tira do eixo”

Ana C.


Eu, por ser um ser do sexo feminino e uma artista em formação, tenho verdadeira paixão e adoração por mulheres que criam. Todo o tipo de arte e criação... Da maternidade à música, da culinária à poesia...

Por mais incrível que isso possa parecer, ainda existe na mulher essa necessidade de autoafirmação e de sempre se mostrar capaz de tudo, pelo complexo fato de não se ter o reconhecimento devido e, principalmente, por sofrer com o machismo e o preconceito.

Tenho a felicidade de fazer parte de uma geração que tem grandes referências surgidas ao longo do tempo. Mulheres desbravadoras que abriram os meus caminhos provando que esse papo de sexo frágil é balela... E que me ensinaram a acreditar no poder que temos! Mas, falar da importância da mulher no mundo, além de ser “mais do mesmo”, exige uma superioridade intelectual que eu não tenho.

Meu pensamento, nestes últimos dias, está voltado a uma dessas minhas paixões e referências que tenho na vida e, como aqui é o meu espaço (que sempre divido com quem quiser!), vou explicitar o meu carinho e admiração por ela: Ana Cristina Cesar!




Ana Cristina César foi um dos grandes nomes da “poesia marginal” ou “poesia de mimeógrafo” dos anos 70. Teve um único livro publicado em vida (A Teus pés). Talvez, sua prematura morte tenha eternizado a sua obra... que ainda estava no início. Ana C. cometeu suicídio em 29 de Outubro de 1983, aos 31 anos. Pode-se, aqui, discutir os enigmas que levam grandes artistas como a nossa poetisa carioca em questão a cessarem suas vidas de maneira trágica. Mas, o que pode ter levado Ana C. a tomar tal atitude está em outra esfera, muito mais inalcançável e, no caso – e com todo respeito! -, menos importante do que a sua bela obra. Ler Ana Cristina César é se apaixonar! Esse privilégio pode ser de todos que, inacreditavelmente, ainda não a conhecem.

Abaixo segue um texto sensacional de Annita Costa Malufe. Delicie-se:



Ana C.:

"Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono."



“Angústia é fala entupida.”



“olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas”



"Ai que enjoo me dá o açúcar do desejo."




Ana Cristina Cesar é eterna em minha vida!

Beijo grande! Positivas, sempre!

Denise

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meu Mundo Em Pausa

Olho nos olhos perdidos num espelho cruel
E vejo uma tristeza esfinge
Mas, nem sei como perguntar a mim mesma
O que está acontecendo
O porquê do riso sem vontade
Dos aplausos para o que não vejo graça
Do viver sem chegar, sem cessar...

Estou aqui com meu companheiro
Emitindo acordes melancólicos
Nessa tarde cinza e fria
Tentando chamar o Sol
Na esperança de ouvir seu estilhaçar na janela

Que venha a luz distante!
E que seus raios atinjam a veia de minha vida
Que façam meu corpo jorrar o líquido gélido
Que penetrará na terra dos infelizes
Para nunca mais vir à tona

Não há melhor antídoto que a música
E nem pior veneno que a burocracia
Infiltrada nos sentimentos...

Para ver o mundo dar voltas
É preciso girá-lo no dedo.



Denise Soares - 27/06/2007