domingo, 27 de outubro de 2013

Vanguarda Paulista e o viés universitário na música de São Paulo


Por Denise Soares[1]

Artigo produzido no 2º semestre de 2012. Incluí ilustrações nesta publicação.


Resumo

Este texto pretende enfatizar a importância e a influência do meio universitário no que tange a criação e o desenvolvimento de música popular e seus desdobramentos na cidade de São Paulo. Destacam-se neste trabalho músicos vanguardistas, em especial, da chamada Vanguarda Paulista - grupo de artistas que surgiu nos anos 1970, tendo grande destaque no início dos anos 1980. Através da efervescência criativa dentro das universidades, a música produzida por estes artistas culminou em manobras de mercado pelo prisma da produção independente. Além disso, boa parte destes músicos retornou à universidade como teóricos, professores e/ou educadores, divulgando a Música Popular Brasileira em diversos estudos publicados em livros ou lecionados, inclusive, em outros locais dissidentes, onde se estuda música. Vale ressaltar que, a maioria destes artistas citados no texto possui formação musical acadêmica erudita e optaram por produzir música popular, comprovando, então, que Música Popular Brasileira, música erudita e cultura acadêmica sempre puderam, muito bem, caminhar juntas. Esta análise faz um retrospecto da evolução, participação e contribuição da universidade no universo da Música Popular Brasileira, enfocando a cidade de São Paulo, partindo do século XIX até o início do século XXI. O objetivo é ilustrar que a universidade cumpriu e ainda cumpre um papel importante dentro da cultura musical paulistana.


Palavras-chave: Universidade; Academia; São Paulo; Música Popular; Vanguarda;


 Teatro, livraria e selo Lira Paulistana, situado à Rua Teodoro Sampaio em Pinheiros. Este era o "não-lugar" da Vanguarda Paulista e seus apreciadores. Funcionou até 1986.

Sobre as influências e heranças cultivadas e explicitadas pela Vanguarda Paulista e outros músicos de vanguarda, pode-se começar este assunto pela fundação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco - que, de fato, mudou a vida cultural de São Paulo. Aqui, há um histórico importante do que veio a gerar ideias e pensamentos relevantes para o cotidiano dos paulistanos e do Brasil. Em 1827, foi criada - em um velho convento, que datava do século XVI, cujas respectivas igrejas ainda existem - a Academia de Direito de São Paulo como instituição-chave para o desenvolvimento da Nação. Era um pilar fundamental do Império, pois, se destinava a formar governantes e administradores públicos capazes de estruturar e conduzir o país recém-emancipado. Nos anos 1930, foi construído um novo edifício, hoje tombado como patrimônio histórico do Estado de São Paulo, no Largo São Francisco. Possui um grande acervo cultural, onde se agrega desde os vitrais da escadaria até pinturas e esculturas feitas por artistas renomados, além da biblioteca que tem um acervo reunido, desde 1825, por frades franciscanos. Foi a primeira biblioteca pública de São Paulo. Nomes como Joaquim Nabuco, Prudente de Morais, Campos Salles, Bernardino de Campos, Ulisses Guimarães e Franco Montoro passaram por lá com suas ideias de revolução. A Faculdade de Direito, além disso, foi a primeira instituição a integrar a Universidade de São Paulo (USP)[2] no momento de sua criação.

A Faculdade de Direito, situada no centro da capital paulista, era uma faculdade de cultura geral, na verdade. Ela cumpria este papel. Os estudantes se empenhavam em serem oradores, jornalistas, músicos, poetas e boêmios, enriquecendo a vida acadêmica, também, fora das salas de aula. Alunos e alguns professores da Faculdade se dedicavam assiduamente à música - hábito herdado dos portugueses e dos cariocas. Eram realizados saraus onde se cantava e dançava. Havia, também, as serenatas, onde os instrumentos preferidos eram violão, flauta, cavaquinho, clarineta e gaita. O repertório era composto por modinhas e lundus, já em voga no Rio de Janeiro. Compositores como Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães, Teodomiro Alves Ferreira, Venâncio José Gomes da Costa Júnior foram revelados na Faculdade de Direito. Porém, em tempos de industrialização da cidade de São Paulo, tudo estava atuando ao mesmo tempo. Havia a ópera, os movimentos literários, a Art Noveau... A música e a literatura foram absorvidas pelas elites, saindo um pouco das rodas e saraus estudantis para adentrar os salões. Certa liberdade foi perdida pelos estudantes, contudo, eles não deixaram a música e a boemia de lado. As serenatas foram substituídas pelos shows. Surgiu, então, a Caravana Acadêmica. Criada em 1927, no centenário da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Caravana Acadêmica foi um grupo que fazia shows nos teatros da capital e do interior paulistas. As rodas de samba promovidas por essa caravana inspiraram, já nos anos 1940, o jovem sambista e universitário Paulo Vanzolini a compor sucessos inesquecíveis da Música Popular Brasileira.[3]


 Prédio da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Através da efervescência cultural e da disposição de estudantes e professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, já se pode constatar que a universidade foi transformadora da mentalidade paulistana, pois, era foco da ciência, filosofia e literatura, mesmo tendo sido idealizada para representar o comprometimento com o avanço industrial e democrático da sociedade brasileira. E a universidade, com o passar do tempo, foi além: com a contribuição de professores franceses, alemães e italianos, a pesquisa foi colocada no centro e a Universidade de São Paulo ajudou a modificar as tradições da elite. Faculdades isoladas como Medicina e Direito davam um status elevado a seus formandos e as outras escolas superiores ficavam por baixo. A partir da década de 1930, foi desenvolvido um padrão inédito de interdependência dessas diversas unidades, colocando as faculdades de Filosofia no centro. Essas faculdades eram voltadas à pesquisa nas Ciências Humanas, Físicas e Biológicas, tirando um pouco a aura das tradicionais, dignificando a Veterinária, Agronomia, Letras, Matemática, dentre outras. Grupos da elite com formação superior se ampliaram.

Vale ressaltar, também, que, nos anos 1960, a universidade saiu da condição de contemplativa e passou a ser participativa. O período ainda era de modernização processada em valores, comportamentos e condutas. Contudo, foi fortalecido o interesse de estudantes e professores que efervesceram internamente passando a participar de movimentos sociais com o enfoque, inclusive, no interesse pela cultura popular, cinema, teatro e música. A Faculdade de Filosofia (USP) da Rua Maria Antônia foi um exemplo desta forte relação com a vida cultural de São Paulo e com as inovações que surgiram, dentre elas: Cinema Novo, Teatro Oficina, Teatro de Arena e os Festivais da Canção que ocorriam nos Teatros Record (Rua da Consolação) e Paramount - hoje, Teatro Renault, conhecido por apresentar musicais, em geral, grandes produções a Broadway - (Avenida Brigadeiro Luiz Antônio).

Portanto, havia um contato forte com essas efervescências que aconteciam próximas à universidade. Esta cultura extremamente viva fez o estudante de Letras, José Miguel Wisnik, mudar o seu projeto de vida - ele começou a estudar piano no Conservatório Musical de São Vicente e, posteriormente, em São Paulo. Compôs canções para um festival universitário e para o Teatro Oficina de Zé Celso Martinez Corrêa. Outro músico, cuja ligação com essa efervescência dos anos 1960 está totalmente presente em sua carreira, é Luiz Tatit, que se envolveu com a música discutindo o Tropicalismo com os colegas de escola pública. Posteriormente, estudou Música na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP onde era ensinada, exclusivamente, a música erudita, sendo a música popular não considerada música. Enquanto compunha as canções do grupo Rumo, estudava Letras também.[4] Em tempo: o Rumo nasceu de um grupo de estudos da USP, cujas músicas focavam inserir novas informações baseando-se em pesquisas sobre as relações entre canto e fala. A cantora e vocalista Ná Ozzetti foi apresentada ao grupo como uma cantora que chamava a atenção pelas peculiares interpretações que dava às canções[5].

 A “invasão da Maria Antônia”[6] e a instauração do Ato Inconstitucional nº 5 (AI-5) não diminuíram a força dos estudantes e o seu poder de transformação dos costumes da sociedade e da cultura. Por outro prisma, a Música Popular Brasileira fazia parte da realidade universitária, também: professores usavam letras de Vinícius de Moraes, Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, além de poesias de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade para ministrar suas aulas, tendo boa receptividade por parte dos alunos. Cidadania foi um dos temas que passaram a ser discutidos na música, a partir da segunda metade dos 60’s, apontando para a “dupla cidadania do povo brasileiro”, que significa o contraste entre a solitária vida do cidadão em meio à multidão no mundo imaginário da música popular e o refúgio à cidadania plena e irônica para entender o país real[7].


 Registro fotográfico da "Invasão da Maria Antônia".


Nos anos 1970, a universidade e seus estudantes engajados política e socialmente estavam no centro e seu potencial de estar na linha de frente no combate ao regime militar instaurado era amplamente visto por correntes que iam das organizações de guerrilha e luta armada de esquerda até os Circuitos Universitários promovidos por artistas como Elis Regina, que fazia shows organizados por centros acadêmicos de faculdades do interior do estado de São Paulo, Paraná e Santa Catarina[8]. Arrigo Barnabé, com sua irreverência, originalidade e sensibilidade era estudante de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e de Música da Escola de Comunicação e Artes - ambas da USP -, e ampliou os limites da Música Popular Brasileira - se é que se pode dizer que a Música Popular Brasileira é limitada - misturando a música popular com a música dodecafônica, aprendizado adquirido no Conservatório Musical de Londrina, além dos estudos caseiros feitos por conta e do exercício de fazer música com os colegas de FAU e ECA. Clara Crocodilo (Clara Crocodilo, Nosso Estúdio - 1980) foi composta quando Arrigo ainda fazia o curso da FAU. Foi também na década de 1970 que a música brasileira começou a ser estudada e composta de forma experimental. Diante desta afirmação, pode-se dizer que a composição experimental dentro da universidade foi marcada pelo trabalho de Arrigo Barnabé, na FAU, na ECA e fora das salas de aula em ambientes frequentados por jovens de alto nível intelectual, interessados em pesquisas sobre as fronteiras e transformações da música erudita em Música Popular Brasileira. A obra do compositor, nos anos 1970 e 1980, retratava o tamanho do mal-estar provocado pelo regime militar e o quanto ele se agravava. Por estar na universidade no contexto da ditadura, Barnabé destacava em seu trabalho a opressão e a solidão do homem e a violência, sempre rompendo limites na música brasileira com suas composições dodecafônicas - algumas delas de sucesso como Clara Crocodilo e Diversões Eletrônicas, do já citado disco Clara Crocodilo.

 Arrigo Barnabé.

Alguns artistas da Vanguarda Paulista servem de exemplo sobre onde chegou, ao longo das décadas, esta evolução do sistema universitário na sociedade, atrelando-se à música: além dos já citados Arrigo Barnabé, Luiz Tatit e José Miguel Wisnik, se tem Arthur Nestrovski. Estes artistas se formaram em Arquitetura, Letras e Música, respectivamente, na FAU e na ECA. Dentro da universidade desenvolveram seus trabalhos artísticos junto com outros artistas de diversas esferas. Ná Ozzetti é outro exemplo, pois, estudou Música na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS) e, posteriormente, ingressou em outra universidade - Fundação Álvares Penteado (FAAP) - para cursar Artes Plásticas[9]. O grupo Língua de Trapo formou-se na Fundação Cásper Líbero. É importante, ainda, citar Tom Zé, compositor baiano que cumpre papel fundamental na chamada música de vanguarda brasileira. Mesmo não tendo feito parte da turma Vanguarda Paulista, Tom Zé marcou profundamente a história da música produzida em São Paulo, desde a Tropicália até o seu ressurgimento nos anos 1990. Vale relembrar que, Tom Zé é baiano, mas, fez de São Paulo a sua moradia e escolheu a cidade para projetar a sua carreira musical, prestando diversas homenagens à terra da garoa. O músico frequentava os seminários de música na Universidade Federal da Bahia (UFBA) ministrados por Koellreutter.

Hans-Joachim Koellreutter foi uma das personalidades mais importantes que escreveram a história da vanguarda musical brasileira. Sem a intervenção deste grande nome, a trajetória da música de vanguarda no Brasil não seria a mesma ou, talvez, não existiria com a mesma força. Koellreutter era compositor, maestro, educador e esteta alemão. Desembarcou no Brasil em 1937. Sempre foi um artista preocupado com a sociedade de massa, no sentido tecnológico e industrial, e via na arte um meio de libertação, comunicação e educação. Koellreutter instaurou um significativo trabalho de formação e criação, sendo um marco na história da vanguarda musical brasileira. Tornou-se referência para a criação de laboratórios de disciplina pelo país afora, além de ser internacionalmente reverenciado por promover debates e difusões de ideias por ensino com aulas e palestras, publicações, regência de concertos, animação cultural, gestão de instituições, além de sua própria obra musical.  Formou artistas como Rogério Duprat, Damiano Cozzela, Júlio Medaglia, Paulo Moura, José Miguel Wisnik, Nelson Ayres e Tim Rescala, além de Tom Zé.   “Tudo o que choca, conscientiza” - esta era a filosofia do maestro. 


 Tom Zé, Koellreutter e o escritos Carlos Kater.


Fortalecendo a ideia de que a música popular cabe em todos os meios e, também, pode ser aprendida na universidade, novas tendências surgiram ao longo das décadas. Nos anos 1990, “compositores professores” desenharam um novo cenário na produção musical paulistana e colocaram-na em evidência tanto na academia quanto nos meios musicais de mais destaque. O trabalho musical e crítico da Vanguarda Paulista transformou-se em objeto de pesquisa na área da Semiótica e o pioneiro neste aspecto foi Luiz Tatit. Assim, a Música Popular Brasileira continuou dentro da sala de aula com sucesso. Tatit é um profissional que consegue harmonizar composição, produção de CDs, shows, livros e teses acadêmicas com muita competência. José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski seguem a mesma linha, tanto que, no início dos anos 2000, criaram as aulas-shows - uma novidade herdada da Vanguarda Paulista, um novo gênero com características próprias. Diferente de uma aula e de um show, a aula-show combina elementos dos dois estilos criando uma nova forma de apresentação cultural. Embrião: nos anos 1970, durante as apresentações do grupo Rumo, Luiz Tatit explicava para o público as canções que eram executadas no show. Discutiam-se tecnicamente as canções a serem ouvidas e, no final, havia um debate aberto onde artistas e público falavam sobre as ideias ligadas às músicas de vanguarda. Eram praticamente aulas.


 Tatit, Wisnik e Nestrovski.


Possuindo características de um recital, com instrumentos musicais e fala informal, a aulas-shows vão além, dando abertura para o público fazer análises e comentários sobre as relações e discussões entre música e letra, criação, momentos significativos da Música Popular Brasileira, panoramas atuais e antigos da canção, dentre outros. A aula-show une pensamento crítico e emoção sem preconceitos. Seus diferenciais dão uma abertura com gancho para a imprensa que, ainda hoje, a transmite por canais de televisão como a TV Cultura (CPFL Cultura e Café Filosófico são dois programas que seguem esta linhagem) que auxiliam na divulgação do trabalho musical e acadêmico dos artistas que se apresentam com esta nova linguagem. Vale ressaltar que, a aula-show é um produto de uma época de liberdade política onde o debate sobre as conjunturas atuais não tinham mais nenhum cunho ideológico potente e o artista não era mais solicitado a se posicionar, como nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Porém, conquistou adeptos como Caetano Veloso, que já fez aulas-shows junto com José Miguel Wisnik. Esta não exigência do público ao artista para falar de política, talvez, seja fruto dos efeitos da globalização no final do século XX. O fato de o artista estar “livre” de compromissos políticos abre possibilidades de a canção encontrar novas afinidades. A Vanguarda Paulista, por ser não idealista, ampliou este campo, aproximando música erudita e popular brasileira, ensaísmo, poesia lírica e literatura.

Outra questão importante, defendida pela autora Sonia Marrach Alem[10] é que já existem materiais bibliográficos suficientes para que se crie uma nova faculdade: Faculdade da Canção Popular. Este pensamento se deve à produção da Vanguarda Paulista, no que tange o papel que seguiu cumprindo, tendo grandes profissionais como representantes. Além das obras acadêmicas de Luiz Tatit, tem-se, ainda, os trabalhos de José Miguel Wisnik - que começou a compor nos anos 1960, mas, só teve notoriedade com suas composições feitas no decênio de 1990, além de livros e ensaios sobre música, política e sociedade - e Arthur Nestrovski que é compositor, crítico musical e autor de livros sobre música erudita e popular.


Referências Bibliográficas


Bibliografia

ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. São Paulo: Leya. 2012.

FENERICK, José Adriano. Façanhas às próprias custas - A produção musical da Vanguarda Paulista (1979-2000). São Paulo: Annablume. FAPESP. 2007.

MARRACH, Sonia Alem. Música e universidade na cidade de São Paulo: do samba de Vanzolini à Vanguarda Paulista. São Paulo: Unesp, 2012.


Fontes impressas


GHEZZI, Daniela Ribas. De Um Porão Para O Mundo: A Vanguarda Paulista e a produção independente de lp´s através do selo Lira Paulistana nos anos 80 - um estudo dos campos fonográfico e musical. Campinas, SP. Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Filosofa e Ciências Humanas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. 2003.

MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Tete Espíndola e Ná Ozzetti: Produção musical feminina na Vanguarda Paulista. Campinas, SP. Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Filosofa e Ciências Humanas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. 2005.

VICENTE, Eduardo. A vez dos independentes (?): um olhar sobre a produção musical independente do país. Artigo publicado na Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Universidade de São Paulo. 2006.


Fontes eletrônicas


CERQUEIRA, Beatriz Lopes Jardim de. Descendo a ladeira da memória - A música popular em São Paulo nos anos de 1980. Disponível em: http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD XVII/ST XVIII/Beatriz Lopes Jardim de Cerqueira.pdf.

FENERICK, José Adriano. Vanguarda Paulista: Apontamentos para uma crítica musical. Disponível em: www.revistafenix.pro.br/pdf11/artigo.7.secao.livre-jose.adriano.fenerick.pdf.

LOPES, Andrea Maria Vizzoto de Alcântara. A música independente e a vanguarda paulista.  http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais3/andrea_lopes.pdf.




[1]Denise Soares (autora) possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Anhembi Morumbi. Contato: soares3083@bol.com.br.

[2] Fundada em 1934, a Universidade de São Paulo é pública, mantida pelo Estado de São Paulo e ligada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Reconhecida por diferentes rankings mundiais, criados para medir a qualidade das universidades a partir de diversos critérios, principalmente os relacionados à produtividade científica, a USP é a maior universidade pública brasileira.

[3] Cf.: MARRACH, Sonia Alem. Música e universidade na cidade de São Paulo: do samba de Vanzolini à Vanguarda Paulista. São Paulo: UNESP, 2012. pp. 31-81.

[4] Cf.: MARRACH, Sonia Alem. Op. cit. pp. 134-6 e 184-6.

[5] Cf.: MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Tetê Espíndola e Ná Ozzetti: produção musical feminina na Vanguarda Paulista. Campinas, SP. Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Filosofa e Ciências Humanas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, 2005.

[6] Em São Paulo, a Outubro de 1968, um grupo de estudantes da Faculdade Presbiteriana Mackenzie ligado ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas) entraram em confronto com universitários da Faculdade de Filosofia da USP e outros opositores da ditadura militar. Esta rivalidade vinha acirrando-se deste o dia 17 de Junho do mesmo ano, quando o CCC invadiu uma sala do Teatro Ruth Escobar e espancou atores do elenco da peça Roda Viva de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa. Este enfrentamento culminou na morte do estudante secundarista José Guimarães, que era contra o regime e, meses depois, na prisão de centenas de estudantes no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo.

[7] KEHL, Maria Rita. apud MARRACH, Sonia Alem. Op. cit. p. 12.

[8] Cf.: ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. São Paulo: Leya, 2012. p. 83.

[9] Cf.: MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Op. cit.

[10] Cf.: Para maiores referências da autora, é importante ler: A arte do encontro de Vinícius de Moraes: poemas e canções de uma época de mudanças - 1932-1980 (Escuta, 2000) e Outras histórias da educação: do Iluminismo à indústria cultural – 1823-2005 (UNESP, 2009), dentre outras. 




sábado, 5 de outubro de 2013

Um Milhão de Melodias





Este é um dos textos que desenvolvi dentro da área de pesquisa musical. O utilizei como trabalho de faculdade, para a disciplina Introdução à MPB, ministrada pelo Prof. Dr. Theophilo Augusto Pinto, dentro do Curso de Comunicação Social (Rádio e TV) – Universidade Anhembi Morumbi, 2º semestre de 2010. Trata-se de um texto curto e simples, que traz uma análise sobre o programa Um Milhão de Melodias, da Rádio Nacional. Para publicá-lo aqui, fiz algumas alterações e inclusões básicas de informação.

Um milhão de melodias foi uma série de programas transmitida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, todas às segundas feiras, no horário das 20h30, sendo, também -segundo o locutor, Paulo Gracindo - radiado às quartas feiras às 12h05. Era patrocinado pela Coca-Cola (sim, presença constante e maçante, inclusive). A direção era dos maestros Paulo Tapajós e Radamés Gnattali - este último também fazia a direção musical. Um milhão de melodias esteve no ar durante os anos de 1942 a 1955.

Todos os programas da série obedeciam à seguinte estrutura:

- abertura ou apresentação do programa e encerramento com um merchandising da Coca-Cola;
- apresentação das músicas, onde o locutor fazia um breve resumo sobre a composição a ser executada, seu compositor, arranjador e intérprete;
- a própria execução das respectivas canções. Além disso, havia um intervalo comercial para a propaganda da Coca-Cola, além de intervenções do locutor, durante a apresentação das músicas, para falar do produto.

Cada programa tinha um tema e, a partir daí, eram elaborados os arranjos e escolhidos os intérpretes para músicas brasileiras e estrangeiras. Eram apresentadas, aproximadamente, dez canções de diversos estilos - obviamente, de acordo com o tema proposto - sendo elas interpretadas por artistas nacionais, dentre eles conjuntos vocais como As Três Marias e o Trio Melodia (criados especialmente para o programa) e cantores que já faziam parte do cast da Rádio Nacional, além da Orquestra Brasileira, que também era exclusiva do programa. Vale ressaltar que, o fato de cada programa ter um tema não privilegiava um estilo musical. As atrações apresentavam desde canções folclóricas, marchinhas e sambas até foxes americanos em versões nacionais.

O público alvo atingido era de classe média, composto por homens e mulheres de 15 a 50 anos. Apesar do elenco de artistas ser formado pelas grandes estrelas conhecidas e aclamadas por todos, os temas e canções variavam entre o mais popular como, por exemplo, São João, tendo a música Resfolego - interpretada por Luiz Gonzaga com um arranjo pra orquestra - até os mais "elitistas" como a Independência norte americana tendo a canção Sweet chariot como uma das executadas, com um arranjo mais sofisticado.

A Coca-Cola foi tomando espaço no Brasil nos anos 40, tendo, desde o início, grande força no Rio de Janeiro. Era consumida por pessoas - jovens de classe média, em especial - que não eram ligadas em política e tinham o cinema e as revistas como diversão. Talvez, não seja equivocado dizer que o programa Um Milhão de Melodias queria arrebatar esses jovens. Porém, ao mesmo tempo, a Coca-Cola era apresentada à outra parcela do público quando o locutor dizia: “a bebida das multidões” ou “no mundo inteiro, sob qualquer clima, milhares de pessoas tornaram Coca-Cola seu refresco favorito” ou, ainda, “crianças e adultos bebem com alegria”.
O Programa Um Milhão de Melodias lançou a Coca-Cola no Brasil.

Alguns artistas eram frequentadores assíduos de quase todos os programas. São eles:

- Emilinha Borba: foi contrata pela Rádio Nacional em 1942, onde permaneceu durante alguns meses e, depois, voltou para a mesma emissora, em 1943, firmando-se como a estrela maior do cast. Era, na época, a cantora mais querida e popular do Brasil.
- Luiz Gonzaga: estreou na Rádio Nacional, em 1943, e passou a divulgar a cultura nordestina com a sua peculiar forma de tocar sanfona atrelada às letras de Humberto Teixeira, além de usar trajes tipicamente nordestinos.
- Zezé Gonzaga: uma das mais famosas intérpretes da Rádio Nacional. Chegou a ser a mais tocada e, reza a lenda, era a preferida de Radamés Gnattali.
- Os Cariocas: conjunto vocal que estreou na Rádio Nacional, no programa Um Milhão de Melodias, em 1946.

Participavam com frequência, ainda: Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Trio Madrigal, Carlos Galhardo, Ivon Cury e Juanita Castilho, dentre outros.

Nos dias de hoje, este programa caberia tanto para o rádio quanto para a televisão. No rádio, a sugestão é seguir a mesma linha em relação aos temas que poderiam ser abordados através de seus dados históricos e de músicas relacionadas. Ao invés de se ter um maestro responsável pelos arranjos, orquestras e conjuntos exclusivos, seria interessante, então, propor a cada artista convidado dar a sua própria roupagem e interpretação sobre determinadas canções e, indo além, abrir espaço ao artista para mostrar composições inéditas ligadas ao tema, se for o caso. Assim, um repertório de músicas atuais poderia, também, ser apresentado ao público. As vinhetas de abertura e encerramento seriam fixas, produzidas exclusivamente para o programa. Esta atração se encaixa melhor em rádios que têm um segmento mais restrito como, por exemplo, aquelas que tocam somente “MPB”, limitando o número de artistas que por elas passam; ou rádios que se limitam a tocar “MPB”, jazz e outros estilos que não são direcionados a um público de massa. Neste último caso, se teria abertura para a música estrangeira. Os patrocinadores, provavelmente, seriam os parceiros dessas rádios.

Vale ressaltar que, este programa deve ser gravado em um auditório ou teatro, como na época da Rádio Nacional, para que se tenha uma boa estrutura para tocar ao vivo e com banda. A favor disso tudo, existem outras mídias - tendo a internet como a principal delas - onde esses programas podem ser transmitidos simultaneamente por diversas redes sociais existentes.

Na televisão, a busca pela audiência traz algumas diferenças em relação ao que seria produzido no rádio. A começar pelos convidados. Seria necessária uma total abertura para artistas mais conhecidos pela massa e, consequentemente, para um repertório mais eclético, no que diz respeito a estilos musicais. Isso, obviamente, não impediria a participação de artistas menos conhecidos pelo grande público. Da mesma forma que no rádio, teria um apresentador, abertura do programa com vinheta, estrutura para apresentar bandas, etc.

Não seria um equívoco dizer que existem alguns programas de rádio e de televisão que foram ou são inspirados em Um Milhão de Melodias. Da televisão, de alguns anos atrás, pode-se citar programas como O Fino da Bossa (TV Record), o Globo de Ouro (TV Globo) e o Som Brasil (TV Globo).

No rádio, pode-se falar do programa Vozes do Brasil, da Rádio Eldorado FM. 

Vozes do Brasil estreou na extinta rádio Musical FM, nos anos 90, e passou a ser exibido, no início da década de 2000, pela Rádio Eldorado FM, tendo à frente, como produtora e locutora, a jornalista Patrícia Palumbo. A atração tinha este nome porque era transmitida no horário de A Voz do Brasil, na rádio Musical FM e, a partir daí, não mudou mais. Em princípio, era todo feito no estúdio da rádio, com Patrícia Palumbo apresentando músicas de todas as épocas e, principalmente, dando abertura a novos artistas e tendências do momento. Música ao vivo acontecia quando o programa levava algum convidado a ser entrevistado e este fazia uma apresentação de voz e violão. Os programas, em sua maioria, eram gravados. Quando Patrícia e o Vozes do Brasil foram para Rádio Eldorado FM, a estrutura e os horários mudaram, também. O programa passou a ser transmitido ao vivo, em determinada época, direto do auditório do SESC Vila Mariana, com uma estrutura maior para a apresentação de grupos musicais, além da presença do público que participava das entrevistas. No estúdio, passou a ser ao vivo também. Inclusive, alguns destes programas foram gravados no estúdio Outra Margem, também, em São Paulo, abordando temas específicos ou não. Quando acontecia a transmissão diretamente do auditório do SESC, Patrícia, geralmente, trazia um tema, convidava um artista (às vezes, mais que um) ligado a esse tema e mesclava entrevista, musical ao vivo e execução de gravações de artistas também ligados ao assunto. Exemplo: Vanguarda Paulista - Convidada: Ná Ozzetti. Dentro disso, desenvolvia-se o roteiro com entrevista, dados históricos e execução de gravações de outros artistas relacionados como o Grupo Rumo. Hoje, o programa segue o primeiro formato, gravado em estúdio contando, algumas vezes, com a participação de convidados. Porém, o Vozes do Brasil transmite o Instrumental SESC Brasil, que ocorre todas as segundas-feiras no teatro do SESC Consolação (acontecia no auditório do SESC Paulista, mas, devido a reformas, foi transferido). A transmissão é feita para diversas rádios e redes sociais como o Facebook e o Twitter. A principal semelhança que se pode enfatizar com o programa Um Milhão de Melodias da Rádio Nacional é a diversidade musical brasileira apresentada, sendo ela mostrada através de temas. E, também, a transmissão ao vivo do Instrumental SESC Brasil, com a estrutura de auditório com público e etc. Já as diferenças são que os artistas convidados não são conhecidos pelo público de massa e, consequentemente, os estilos musicais são segmentados. Há também a participação direta do público.

Se você, lendo este texto, sentiu vontade de entender um pouco mais do universo do programa Um Milhão de Melodias, segue um presentinho: as edições nº 7 e nº 8 para download. Delicie-se!



Beijo grande! Positivas, sempre!

Denise