sábado, 5 de outubro de 2013

Um Milhão de Melodias





Este é um dos textos que desenvolvi dentro da área de pesquisa musical. O utilizei como trabalho de faculdade, para a disciplina Introdução à MPB, ministrada pelo Prof. Dr. Theophilo Augusto Pinto, dentro do Curso de Comunicação Social (Rádio e TV) – Universidade Anhembi Morumbi, 2º semestre de 2010. Trata-se de um texto curto e simples, que traz uma análise sobre o programa Um Milhão de Melodias, da Rádio Nacional. Para publicá-lo aqui, fiz algumas alterações e inclusões básicas de informação.

Um milhão de melodias foi uma série de programas transmitida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, todas às segundas feiras, no horário das 20h30, sendo, também -segundo o locutor, Paulo Gracindo - radiado às quartas feiras às 12h05. Era patrocinado pela Coca-Cola (sim, presença constante e maçante, inclusive). A direção era dos maestros Paulo Tapajós e Radamés Gnattali - este último também fazia a direção musical. Um milhão de melodias esteve no ar durante os anos de 1942 a 1955.

Todos os programas da série obedeciam à seguinte estrutura:

- abertura ou apresentação do programa e encerramento com um merchandising da Coca-Cola;
- apresentação das músicas, onde o locutor fazia um breve resumo sobre a composição a ser executada, seu compositor, arranjador e intérprete;
- a própria execução das respectivas canções. Além disso, havia um intervalo comercial para a propaganda da Coca-Cola, além de intervenções do locutor, durante a apresentação das músicas, para falar do produto.

Cada programa tinha um tema e, a partir daí, eram elaborados os arranjos e escolhidos os intérpretes para músicas brasileiras e estrangeiras. Eram apresentadas, aproximadamente, dez canções de diversos estilos - obviamente, de acordo com o tema proposto - sendo elas interpretadas por artistas nacionais, dentre eles conjuntos vocais como As Três Marias e o Trio Melodia (criados especialmente para o programa) e cantores que já faziam parte do cast da Rádio Nacional, além da Orquestra Brasileira, que também era exclusiva do programa. Vale ressaltar que, o fato de cada programa ter um tema não privilegiava um estilo musical. As atrações apresentavam desde canções folclóricas, marchinhas e sambas até foxes americanos em versões nacionais.

O público alvo atingido era de classe média, composto por homens e mulheres de 15 a 50 anos. Apesar do elenco de artistas ser formado pelas grandes estrelas conhecidas e aclamadas por todos, os temas e canções variavam entre o mais popular como, por exemplo, São João, tendo a música Resfolego - interpretada por Luiz Gonzaga com um arranjo pra orquestra - até os mais "elitistas" como a Independência norte americana tendo a canção Sweet chariot como uma das executadas, com um arranjo mais sofisticado.

A Coca-Cola foi tomando espaço no Brasil nos anos 40, tendo, desde o início, grande força no Rio de Janeiro. Era consumida por pessoas - jovens de classe média, em especial - que não eram ligadas em política e tinham o cinema e as revistas como diversão. Talvez, não seja equivocado dizer que o programa Um Milhão de Melodias queria arrebatar esses jovens. Porém, ao mesmo tempo, a Coca-Cola era apresentada à outra parcela do público quando o locutor dizia: “a bebida das multidões” ou “no mundo inteiro, sob qualquer clima, milhares de pessoas tornaram Coca-Cola seu refresco favorito” ou, ainda, “crianças e adultos bebem com alegria”.
O Programa Um Milhão de Melodias lançou a Coca-Cola no Brasil.

Alguns artistas eram frequentadores assíduos de quase todos os programas. São eles:

- Emilinha Borba: foi contrata pela Rádio Nacional em 1942, onde permaneceu durante alguns meses e, depois, voltou para a mesma emissora, em 1943, firmando-se como a estrela maior do cast. Era, na época, a cantora mais querida e popular do Brasil.
- Luiz Gonzaga: estreou na Rádio Nacional, em 1943, e passou a divulgar a cultura nordestina com a sua peculiar forma de tocar sanfona atrelada às letras de Humberto Teixeira, além de usar trajes tipicamente nordestinos.
- Zezé Gonzaga: uma das mais famosas intérpretes da Rádio Nacional. Chegou a ser a mais tocada e, reza a lenda, era a preferida de Radamés Gnattali.
- Os Cariocas: conjunto vocal que estreou na Rádio Nacional, no programa Um Milhão de Melodias, em 1946.

Participavam com frequência, ainda: Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Trio Madrigal, Carlos Galhardo, Ivon Cury e Juanita Castilho, dentre outros.

Nos dias de hoje, este programa caberia tanto para o rádio quanto para a televisão. No rádio, a sugestão é seguir a mesma linha em relação aos temas que poderiam ser abordados através de seus dados históricos e de músicas relacionadas. Ao invés de se ter um maestro responsável pelos arranjos, orquestras e conjuntos exclusivos, seria interessante, então, propor a cada artista convidado dar a sua própria roupagem e interpretação sobre determinadas canções e, indo além, abrir espaço ao artista para mostrar composições inéditas ligadas ao tema, se for o caso. Assim, um repertório de músicas atuais poderia, também, ser apresentado ao público. As vinhetas de abertura e encerramento seriam fixas, produzidas exclusivamente para o programa. Esta atração se encaixa melhor em rádios que têm um segmento mais restrito como, por exemplo, aquelas que tocam somente “MPB”, limitando o número de artistas que por elas passam; ou rádios que se limitam a tocar “MPB”, jazz e outros estilos que não são direcionados a um público de massa. Neste último caso, se teria abertura para a música estrangeira. Os patrocinadores, provavelmente, seriam os parceiros dessas rádios.

Vale ressaltar que, este programa deve ser gravado em um auditório ou teatro, como na época da Rádio Nacional, para que se tenha uma boa estrutura para tocar ao vivo e com banda. A favor disso tudo, existem outras mídias - tendo a internet como a principal delas - onde esses programas podem ser transmitidos simultaneamente por diversas redes sociais existentes.

Na televisão, a busca pela audiência traz algumas diferenças em relação ao que seria produzido no rádio. A começar pelos convidados. Seria necessária uma total abertura para artistas mais conhecidos pela massa e, consequentemente, para um repertório mais eclético, no que diz respeito a estilos musicais. Isso, obviamente, não impediria a participação de artistas menos conhecidos pelo grande público. Da mesma forma que no rádio, teria um apresentador, abertura do programa com vinheta, estrutura para apresentar bandas, etc.

Não seria um equívoco dizer que existem alguns programas de rádio e de televisão que foram ou são inspirados em Um Milhão de Melodias. Da televisão, de alguns anos atrás, pode-se citar programas como O Fino da Bossa (TV Record), o Globo de Ouro (TV Globo) e o Som Brasil (TV Globo).

No rádio, pode-se falar do programa Vozes do Brasil, da Rádio Eldorado FM. 

Vozes do Brasil estreou na extinta rádio Musical FM, nos anos 90, e passou a ser exibido, no início da década de 2000, pela Rádio Eldorado FM, tendo à frente, como produtora e locutora, a jornalista Patrícia Palumbo. A atração tinha este nome porque era transmitida no horário de A Voz do Brasil, na rádio Musical FM e, a partir daí, não mudou mais. Em princípio, era todo feito no estúdio da rádio, com Patrícia Palumbo apresentando músicas de todas as épocas e, principalmente, dando abertura a novos artistas e tendências do momento. Música ao vivo acontecia quando o programa levava algum convidado a ser entrevistado e este fazia uma apresentação de voz e violão. Os programas, em sua maioria, eram gravados. Quando Patrícia e o Vozes do Brasil foram para Rádio Eldorado FM, a estrutura e os horários mudaram, também. O programa passou a ser transmitido ao vivo, em determinada época, direto do auditório do SESC Vila Mariana, com uma estrutura maior para a apresentação de grupos musicais, além da presença do público que participava das entrevistas. No estúdio, passou a ser ao vivo também. Inclusive, alguns destes programas foram gravados no estúdio Outra Margem, também, em São Paulo, abordando temas específicos ou não. Quando acontecia a transmissão diretamente do auditório do SESC, Patrícia, geralmente, trazia um tema, convidava um artista (às vezes, mais que um) ligado a esse tema e mesclava entrevista, musical ao vivo e execução de gravações de artistas também ligados ao assunto. Exemplo: Vanguarda Paulista - Convidada: Ná Ozzetti. Dentro disso, desenvolvia-se o roteiro com entrevista, dados históricos e execução de gravações de outros artistas relacionados como o Grupo Rumo. Hoje, o programa segue o primeiro formato, gravado em estúdio contando, algumas vezes, com a participação de convidados. Porém, o Vozes do Brasil transmite o Instrumental SESC Brasil, que ocorre todas as segundas-feiras no teatro do SESC Consolação (acontecia no auditório do SESC Paulista, mas, devido a reformas, foi transferido). A transmissão é feita para diversas rádios e redes sociais como o Facebook e o Twitter. A principal semelhança que se pode enfatizar com o programa Um Milhão de Melodias da Rádio Nacional é a diversidade musical brasileira apresentada, sendo ela mostrada através de temas. E, também, a transmissão ao vivo do Instrumental SESC Brasil, com a estrutura de auditório com público e etc. Já as diferenças são que os artistas convidados não são conhecidos pelo público de massa e, consequentemente, os estilos musicais são segmentados. Há também a participação direta do público.

Se você, lendo este texto, sentiu vontade de entender um pouco mais do universo do programa Um Milhão de Melodias, segue um presentinho: as edições nº 7 e nº 8 para download. Delicie-se!



Beijo grande! Positivas, sempre!

Denise
       

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